Para quem está acompanhando os
jogos da Copa do Mundo desde o primeiro dia, já deve ter notado o comercial da
cerveja Brahma, com a música “Por enquanto”, em uma versão instrumental. A canção,
de Renato Russo, foi gravada no primeiro disco da banda Legião Urbana, em 1985
e reaparece em um momento, no mínimo, estranho.
Abrindo parênteses, gostaria de
deixar claro que tenho duas coisas a me orgulhar – ser Corinthiana desde o meu
nascimento e ser fã da “Legião Urbana” desde sempre. Obviamente a música no
comercial de uma marca de cerveja, soa estranha para qualquer pessoa que
conheça a trajetória da banda
.
Qualquer cidadão menos informado
deve estar se perguntado “E daí?”.
Eu vou explicar. Renato Russo,
vocalista e líder da Legião Urbana, embora tenha nos deixado em 1996 (no mesmo
dia em que eu completava 19 anos - leia mais aqui!), em decorrência de complicações com a
infecção pelo vírus HIV, tinha sérios problemas com o alcoolismo e drogas. No disco “O descobrimento do Brasil”, Renato
fala sobre o vício em “Só por hoje” – o mesmo lema de grupos de apoio como Alcoólicos
e Narcóticos Anônimos.
Conforme consta no site do Instituto
Renato Russo (*), “A utilização da canção foi autorizada pela Legião Urbana
Produções Artísticas em função do caráter inclusivo da campanha e do
compromisso em dar suporte à criação do Instituto Renato Russo”.
A autorização foi concedida pelo
filho de Renato, Guiliano Manfredini, que atualmente está em disputa judicial
com os antigos companheiros de banda do seu pai, Marcelo Bonfá e Dado
Villa-Lobos pelos direitos de uso da marca Legião Urbana.
Contradizendo as atitudes de
Giuliano, em 2013, o filho de Renato disse para a colunista Mônica Bergamo, da
Folha de São Paulo, que achava “lamentável” a obra de seu pai ser associada ao
álcool. Na mesma época Marcelo Bonfá lançava uma marca de aguardente chamada “Perfeição”
– o que gerou tal comentário por ser o mesmo nome de uma faixa do disco “O
descobrimento do Brasil”, de 1993.
E em 2014, em plena Copa do
Mundo, pode?
Independente de quem será o
vencedor dessa batalha na justiça, quem perde são os verdadeiros fãs, que veem
um patrimônio musical sendo despedaçado e desrespeitado. É mais ou menos como
se falar de corda em casa de enforcado....
(*) O Instituto Renato Russo foi
criado por Giuliano Manfredini para auxiliar no combate à dependência química