segunda-feira, 23 de junho de 2014

Falando da corda em casa de enforcado....

Para quem está acompanhando os jogos da Copa do Mundo desde o primeiro dia, já deve ter notado o comercial da cerveja Brahma, com a música “Por enquanto”, em uma versão instrumental. A canção, de Renato Russo, foi gravada no primeiro disco da banda Legião Urbana, em 1985 e reaparece em um momento, no mínimo, estranho.

Abrindo parênteses, gostaria de deixar claro que tenho duas coisas a me orgulhar – ser Corinthiana desde o meu nascimento e ser fã da “Legião Urbana” desde sempre. Obviamente a música no comercial de uma marca de cerveja, soa estranha para qualquer pessoa que conheça a trajetória da banda
.
Qualquer cidadão menos informado deve estar se perguntado “E daí?”.

Eu vou explicar. Renato Russo, vocalista e líder da Legião Urbana, embora tenha nos deixado em 1996 (no mesmo dia em que eu completava 19 anos - leia mais aqui!), em decorrência de complicações com a infecção pelo vírus HIV, tinha sérios problemas com o alcoolismo e drogas.  No disco “O descobrimento do Brasil”, Renato fala sobre o vício em “Só por hoje” – o mesmo lema de grupos de apoio como Alcoólicos e Narcóticos Anônimos.

Conforme consta no site do Instituto Renato Russo (*), “A utilização da canção foi autorizada pela Legião Urbana Produções Artísticas em função do caráter inclusivo da campanha e do compromisso em dar suporte à criação do Instituto Renato Russo”.

A autorização foi concedida pelo filho de Renato, Guiliano Manfredini, que atualmente está em disputa judicial com os antigos companheiros de banda do seu pai, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos pelos direitos de uso da marca Legião Urbana.

Contradizendo as atitudes de Giuliano, em 2013, o filho de Renato disse para a colunista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, que achava “lamentável” a obra de seu pai ser associada ao álcool. Na mesma época Marcelo Bonfá lançava uma marca de aguardente chamada “Perfeição” – o que gerou tal comentário por ser o mesmo nome de uma faixa do disco “O descobrimento do Brasil”, de 1993.

E em 2014, em plena Copa do Mundo, pode?

Independente de quem será o vencedor dessa batalha na justiça, quem perde são os verdadeiros fãs, que veem um patrimônio musical sendo despedaçado e desrespeitado. É mais ou menos como se falar de corda em casa de enforcado....


(*) O Instituto Renato Russo foi criado por Giuliano Manfredini para auxiliar no combate à dependência química