Na infância a gente sabia que o
Natal estava perto quando a mãe montava a árvore e o presépio. Tudo muito
simples, mas obedecia uma tradição que parecia um ritual.
Nunca tinha uma data certa para
acontecer, mas era sempre um domingo de dezembro, depois do almoço e naquela
época nada de “ceia da árvore”. Depois de almoçar e lavar as louças, a mãe
pegava aquela velha caixa de papelão, que ficava grande parte do ano na parte
de cima do guarda-roupa e era naquele momento, que a magia começava.
A gente ficava ao redor da caixa.
As peças do presépio estavam todas embrulhadas, dentro de uma casinha de
madeira, com telhado de palha, que representava a manjedoura. Aos poucos, as
peças eram desembrulhadas, uma a uma e a gente ficava na expectativa de quem ia
achar o menino Jesus primeiro, dar um beijinho na imagem e colocar no centro da
casinha de madeira...
O antigo presépio era uma herança
de família, que passou das tias do meu pai para a nossa casa. Não era muito
grande, mas tinha personagens interessantes além dos tradicionais – a moça
lavando roupa em uma tábua, a galinha com seus pintinhos, os anjos,
carneirinhos, o guarda romano.... De tempos em tempos, o pai retocava a pintura
daquelas pequenas imagens e o presépio continuava sendo montado dezembro após
dezembro. Teve um ano que a manjedoura ganhou uma estrela-guia, feita de
papelão e encapada com papel alumínio.
Eu ainda gosto de fotos com árvores de Natal (mesmo que seja no shopping) |
Depois de montado, o presépio
fazia parte da nossa casa até o dia seis de janeiro, quando os Reis Magos,
apareciam dentro da manjedoura. A mãe fazia questão de movimentá-los bem
cedinho, para gente achar que eles tinham seguido andando até ali.
O nosso presépio era lindo, mas
eu gostava mesmo daquele que era montado na casa da Tia Idalina. As peças eram
enormes, tinha mais personagens, montava-se quase uma cidadezinha. Era maior
que o presépio montado na igreja Matriz da pequena Mineiros do Tietê, onde morávamos. Dava
gosto de ver, uma perfeição....
Mas o Natal não era só presépio,
tinha a árvore, montada na mesma tarde de domingo. Era bem simples, de
plástico, muito diferente daquelas que temos hoje. As bolinhas e os enfeites
eram de vidro, tinham um brilho diferente... sempre quebrava uma ou duas, a mãe
reclamava, mas continuava a montagem da árvore, no ano seguinte compraria outras novas. Depois de pronta, tinha que colocar
os pedacinhos de algodão, representando a neve. No dia de Natal, a mãe fazia
questão de fotografar a gente em frente à árvore. Foi assim durante anos, mesmo
depois que a antiga foi substituída por uma mais moderna.
Nos álbuns de fotografias as
imagens ainda estão lá, recordando os Natais de muitos anos.
Hoje o presépio da mãe foi
reduzido a poucas imagens – tem Maria, José, o menino Jesus e dois anjinhos. A
casinha de madeira foi aposentada, assim como os outros personagens. Mas ela
continua montando a árvore, as bolinhas de vidro deram espaço aos enfeites de
plástico. E se a mãe insistir, a gente ainda tira foto na frente da árvore.