segunda-feira, 18 de julho de 2011

Censurar o quê?

Por ter nascido no final dos anos de 1970 (1977 para ser mais exata), tive que conviver por um tempo com o final da Ditadura no Brasil e tenho algumas lembranças, que hoje em dia, são engraçadas e até surreais para os mais novos.

Por exemplo, quando ia começar qualquer programa na TV, era exibido um “certificado de censura”, literalmente um pedaço de papel no qual aparecia a faixa etária indicada para o público daquela exibição.  É mais ou menos como a classificação indicativa que aparecem nos programas de TV atualmente, mas com a autorização da Polícia Federal e Ministério da Justiça dizendo se era livre para todos os públicos ou censurado para menores de determinadas idades. E não pensem que naquele tempo tinha o intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) para atender aos surdos e mudos, era só um papel e pronto. Tentei encontrar algum exemplar na internet, mas foi difícil. Para quem não conhece, segue uma cópia de certificado para cinema - para a televisão era igual - na exibição de “Dona Flor e seus dois maridos”.
modelo de certificado de censura - anos 1980

No rádio era comum encontramos músicas picotadas pela censura ou outras que nem chegavam aos ouvintes das emissoras. Na década de 1980 era difícil ouvir música dos Titãs no rádio, por causa dos palavrões ou pelo apelo “baderneiro” – quem ouvia a banda era da turma do fundão da sala de aula. Quando “Faroeste Caboclo” foi lançada, algumas rádios colocavam o famoso “piiiiiiii”, em dois trechos “não protejo general de 10 estrelas que fica atrás da mesa com o “piiiiiiiiiii” na mão” e “olha pra cá, filho da “piiiiiiiiiiii”, sem-vergonha”, outras rádios nem tocavam, já que a música tinha mais de 10 minutos e atrapalhava a programação.
No final dos anos de 1980, aos poucos, a sociedade se libertava do fantasma da censura e começava a arriscar algumas ousadias. Lembro da música do “Casseta e Planeta”, que na época nem tinham o humorístico na TV Globo, bradando “mãe é mãe, paca é paca, mulher é tudo vaca!”, um insulto transmitido nas rádios e programas de TV, vai entender, né?
Mas ainda assim, nem tudo continuava plenamente livre. Nos anos de 1993/1994 uma banda norte-americana chamada 20 Fingers apareceu nas rádios brasileiras com a canção “Don’t wanna a short dick man”, que acabou sendo cortada e seu refrão grotesco virou “Don’t wanna a short shor man”, ainda assim todo mundo entendeu o que a música queria falar e fez sucesso com o público adolescente da época.
Hoje em dia:
Chegando ao século XXI, sem censuras ou ditaduras (teoricamente), encontrei duas músicas que tiveram tratamentos diferentes em suas versões. Uma delas é “Me adora”, interpretada pela roqueira baiana Pitty onde ela canta em alto e bom som “Que você me adora / Que me acha foda / Não espere eu ir embora pra perceber...”. Peraí, ela disse “foda” e a música toca na rádio, tem clipe na MTV, Multishow, etc ????
A outra injustiçada é a cantora norte-americana Pink, em sua balada “Fucking perfect”, mutilada nas rádios - a palavra “fucking” é omitida, e com traduções adaptadas para “nada mais que perfeito” ou “perfeito pra caramba” ou mesmo sem tradução do título em alguns lugares.  
Que medidas usaram nesses dois casos já que “foda” e “fucking” são considerados palavrões em seus idiomas de origem?
Eu não sou puritana e nem estou criticando o uso de palavrões em produções como músicas ou filmes, apenas gostaria que tivessem o mesmo tratamento, pode ser? No cinema brasileiro é difícil assistir a um único filme sem que ninguém grite “porra”, “foda” ou “caralho” – mais palavrões. Ou você, caro leitor, conhece algum filme policial americano em que os personagens não usem “fuck” como adjetivo?
Apesar disso tudo, continuo ouvindo músicas com palavrões e indo ao cinema.
Viva a liberdade de expressão! 

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